Se perguntarmos para dez pessoas qual a definição de transformação digital, provavelmente teremos dez conceitos ou opiniões distintas. Todos corretos, a partir de perspectivas próprias, vistos de ângulos e interpretações particulares ou corporativas. Eu escolho falar sobre resiliência. Vinda do latim — resilire —, essa palavra está associada à sobrevivência, capacidade de lidar com os problemas, superar momentos difíceis e não ceder à pressão, independentemente das circunstâncias. Tem uma definição mais apropriada para a época em que vivemos e para os desafios associados à transformação digital?
Eu desconheço. Inclusive, mais do que nunca, precisamos lembrar que a habilidade de se adaptar e de criar novas realidades está entre as melhores estratégias do ser humano para sobreviver. Se a humanidade chegou até aqui, é também porque conseguiu se ajustar às intempéries do caminho ou desenhar novos caminhos para si. Toda inovação começou com uma invenção, muitas delas fruto da necessidade de sobreviver.
A era da resiliência chega para acompanhar a transformação digital que já vivenciávamos, reforçando a nossa capacidade de adaptação e de inovação. Foi assim que aprendemos com as últimas três revoluções industriais. Sendo a terceira responsável pela introdução dos primeiros conceitos digitais na década de 50. Agora, com a chamada Revolução 4.0, exponencializamos tecnologias para automação e troca de dados baseados em princípios, conceitos e decisões descentralizadas, como Internet das Coisas, Big Data Analytic/Algoritmos, Inteligência Artificial, Computação em Nuvem entre outras. Estas novas tecnologias ou conceitos podem gerar aos negócios, governos e sociedade inúmeras oportunidades, aumentando a produtividade de processos e criando novos empregos, mas sem a execução adequada podem desperdiçar grandes investimentos e se tornarem distrações, com poucos resultados práticos.
Eu costumo dizer que a época dos produtos ficou para trás. Vivemos hoje a época das soluções que demandam novos ciclos de pensamentos, atitudes e execução — não adianta olhar para a “prateleira” e oferecer ao cliente o que ele não está mais interessado em consumir. Será praticamente impossível conseguirmos nos transformar em digitais se não estivermos abertos a experimentar novos padrões e novas escalas de conhecimento, prototipagem e testagem. Isso leva tempo e, acima de tudo, resiliência — veja que voltando às revoluções industriais, o tema digital foi introduzido de forma mais massiva no final da década de 50. E ainda achamos, muitas vezes, que o ciclo de adoção tecnológica é demorado? Na verdade, o que o deveria preocupar não é tanto o ciclo tecnológico, mas o ciclo humano de adoção frente a tecnologia que está desenvolvendo.
A maior demonstração de resiliência não é necessariamente socializar por meio de campanhas o que pensamos ser o estado da arte da tecnologia, mas, na verdade, simplesmente apresentar de forma clara os benefícios de se utilizá-la. Lembro-me muito bem durante a migração da tarja para chip EMV – projeto que ao todo deve ter levado entre 5 a 7 anos – muitos executivos e formadores de opinião da época, em diversas ocasiões, levantaram a bandeira da dúvida, se deveríamos continuar investindo no projeto, trazendo a célebre frase: “o chip é uma solução em busca de um problema”. Haja resiliência, pois se tivéssemos tomado outra decisão naquela época, provavelmente estaríamos atrasados no roadmap digital ou o custo de execução seria muito maior.