Estar sempre um passo à frente
Essa parece ser a direção na vida de Penny Lane, vice-presidente do Programa de Disrupção de Fraudes de Pagamentos da Visa. Com o mesmo nome da música dos Beatles, que remete à rua onde tudo acontece na cidade inglesa de Liverpool, sua vida também é repleta de fatos marcantes.
Formada em matemática pela California State University, Stanislaus, e com mestrado em matemática aplicada pela Universidade Johns Hopkins, ela trabalhou como matemática criptológica sênior do Departamento de Defesa da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos durante 13 anos. Em seguida, foi para a Visa, onde hoje lidera cinco equipes formadas por 28 profissionais especializados em fraudes. Além disso, a Visa também conta com escritórios regionais como, por exemplo, no Brasil.
“Todo dia é uma surpresa porque não sabemos o que vai acontecer. Alguns dias parecem tranquilos e, de repente, sabemos de um novo ataque e temos que agir rapidamente. Por isso, nosso objetivo é ser proativo. Mais do que uma caça de gato e rato, o desafio é se antecipar às estratégias dos hackers e criar obstáculos que dificultem a sua execução. Nossa equipe é bastante competente para identificar algum ataque que está prestes a acontecer em qualquer parte do mundo e pará-lo imediatamente para a proteção dos dados de nossos clientes, como emissores, adquirentes, estabelecimentos comerciais, empresas e bancos”.
Segundo ela, as fraudes nos sistemas bancários podem levar mais de três meses para se concretizarem. Sua equipe acompanha cada movimentação dos hackers e auxiliou mais de 40 bancos de todo o mundo, incluindo alguns da América Latina, que estavam comprometidos por ataques desde setembro de 2018. E como eles têm acessos a informações em primeira mão? A Visa utiliza mais de 300 fontes de inteligência ininterruptamente, 24 horas por dia, sete dias por semana, para detectar, deter e interromper ataques direcionados ao ecossistema de pagamento global. Essas fontes incluem relacionamentos com estabelecimentos comerciais e industriais, além do contato com representantes legais e policiais.
Durante seus 18 anos na Visa, Penny acompanhou a evolução dos cibercriminosos, cujas técnicas se tornaram mais complexas e sofisticadas. “A sofisticação das fraudes está aumentando. Os fraudadores são extremamente bem organizados, com o objetivo de roubar dados financeiros e fundos de pessoas, empresas, bancos e até de governos. Por esse motivo, a Visa está constantemente desenvolvendo novas ferramentas para garantir a segurança dos seus clientes”.
Como exemplo, ela cita a solução focada em ataques a transações de comércio virtual. A ferramenta consegue rastrear um malware (software malicioso) que age como um espião, roubando os dados das contas de clientes. A Visa pode identificar este malware assim que o contato ocorre, mesmo que o site da empresa ainda não tenha registrado nenhum tipo de fraude. “Não precisamos esperar nossos clientes denunciarem uma conta comprometida, mas acabar com a ação dos criminosos ao primeiro sinal, evitando a perda de dinheiro”.
Penny também fundou o projeto inovador de capacitação chamado Visa’s Red Team. Faz sentido. Se há hackers que cometem fraudes para roubar dados e aplicar golpes milionários, por que não formar uma equipe capaz de contra-atacar e encontrar vulnerabilidades nos processos de pagamento? A iniciativa rendeu bons resultados e a equipe é composta hoje por cerca de 50 especialistas. Em um laboratório, eles simulam ataques cibernéticos e verificam todos os tipos de combinações em transações, além de testar cada ferramenta de segurança que é desenvolvida.
Entre tantos casos que acompanhou, ela destaca a tentativa de um grupo de hackers na África de sacar dinheiro de forma muito rápida - milhares de dólares por minuto - de uma rede de caixas eletrônicos em uma sexta-feira à noite. Sua equipe achou a atividade estranha e entrou em contato com a instituição financeira, informando que as operações seriam bloqueadas. Por telefone, um funcionário do banco respondeu que nenhuma fraude foi identificada e, portanto, não havia necessidade de interromper as atividades.
“Eu e minha equipe tomamos a decisão de parar todas as transações realizadas por caixas eletrônicos do banco. Depois, descobrimos que o suposto funcionário com quem conversei era um dos criminosos. Todo o grupo foi preso. É uma pressão muito grande porque uma decisão errada teria um impacto terrível. Mas contamos com ferramentas sofisticadas e é bastante satisfatório pegar esses ‘caras maus’”.
Como pioneira, Penny desbravou um espaço onde a presença feminina ainda é reduzida. As mulheres representam apenas 12% dos contratados na área de tecnologia, segundo pesquisa Barômetro de TI realizada com 1.745 profissionais no ano passado pela Michael Page, uma das maiores empresas de recrutamento do mundo. A Visa parece ser uma exceção nesse panorama. A empresa ganhou vários prêmios em 2018 como Melhores Empregadores de Mulheres, da Forbes, e 25 Melhores Empresas para Mulheres do Setor de Tecnologia, da Anita Borg Institute.
“Quando vou a seminários e congressos, percebo que o número de mulheres no setor tecnológico é bastante pequeno, embora esteja aumentando gradativamente. É preciso continuar a encorajar os talentos das jovens em áreas que envolvem matemática e computação. A Visa é uma empresa que promove programas de inclusão, diversidade e igualdade de gênero, reconhecendo a capacidade e dando voz a todos seus colaboradores”.
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